Autor norte-americano critica exagero
dos pais em relação ao estímulo positivo dos filhos. O resultado? Uma
geração de narcisistas. Jovens que acham que não precisam se esforçar
para nada. Rob Asghar, ensaísta e articulista norte-americano, aponta em
um artigo no Huffington Post o surgimento do que ele chama de
"geração N", formada por jovens narcisistas. Para ele, os pais
norte-americanos, atormentados pela culpa por trabalhar muito ou por
optar...
pelo divórcio, estão criando filhos sem
limite algum. Inseguros, eles temem que o filho não goste deles, cedem a
qualquer pedido das crianças e celebram toda e qualquer "conquista" do
filho - até uma formatura de pré-escola.
O resultado é uma geração que se sente
no direito de tudo, sem precisar trabalhar duro por nada. Rob cita uma
pesquisa desenvolvida em conjunto pela San Diego State University e pela
University of South Alabama, que concluiu que o narcisismo dos jovens
norte-americanos cresceu nos últimos 15 anos - e que os Estados Unidos
podem passar por problemas sociais quando estes jovens chegarem à idade
adulta e assumirem cargos de poder.
O estudo, que envolveu dezenas de
milhares de jovens universitários, detectou traços de "auto-respeito
exagerado" e de um "infundado senso de merecimento". Alguns
pesquisadores chegaram a afirmar que a crise econômica mundial,
desengatilhada por decisões de alto risco, já seja um resultado do
narcisismo da geração.
Para Maria Irene Maluf, especialista em
Psicopedagogia e em Educação Especial, esse cenário é comum aqui no
Brasil também. Os pais que temem perder o amor dos filhos representam
uma inversão absoluta de papéis. "Na minha época - eu tenho 57 anos e
minha filha, 32 - eram os filhos que temiam perder o amor dos pais",
contrapõe. Hoje, este temor influencia até na transmissão de valores.
Oprimidos pela culpa ou afundados no
próprio narcisismo, os pais temem colocar limites em seus filhos e criam
crianças que serão eternamente dependentes deles.
Sem parâmetros claros, as crianças
crescem sem valores: não sabem respeitar os pais, pois nunca ouviram uma
repreensão simples como "enquanto uma pessoa fala, a outra escuta". Se
alimentam mal e só comem quando querem, pois jamais os pais foram firmes
e exigiram que ela se sentasse à mesa durante uma refeição. "Limite é a
ética em ação", explica Maria Irene. "Pais e mães narcísicos criam
fracos", resume.
Idade da influência
O psicólogo Caio Feijó, autor de "Pais
Competentes, Filhos Brilhantes" (editora Novo Século), ressalta a
importância do papel de pais e mães nas expectativas e na autoimagem da
criança - e alerta que esse poder é limitado pelo tempo.
"Os pais só têm uma influência grande
sobre os filhos até antes da puberdade, por volta dos 10 ou 11 anos.
Depois disso, vem o resultado, diz.
"Dependendo de como os pais conduzem
essa influência, eles criarão expectativas nos filhos sobre o que eles
podem ou não alcançar", continua. E o estímulo em excesso pode
prejudicar tanto quanto chamar seu filho de "burro" ou de "inútil",
especialmente quando este estímulo indica uma projeção - por exemplo,
aquele pai que é dentista e sempre comenta que o filho "vai ser um
dentista genial, igual ao papai", ou aquela mãe que sempre quis ser
bailarina, mas não pôde estudar quando pequena, então matricula a filha
em aulas diárias da dança, ainda que a menina não mostre o menor talento
ou interesse pelas sapatilhas.
"A superproteção traz consequências tão graves quanto o abandono", finaliza.
Características da "Geração N":
- Não têm noção de limite
- Acham que são merecedores de tudo
- Não sabem se esforçar para conseguir algo
- Não sabem como agir em situações adversas
- São criados por pais narcisistas, que competem entre si
- Não respeitam os outros
- Acham que são merecedores de tudo
- Não sabem se esforçar para conseguir algo
- Não sabem como agir em situações adversas
- São criados por pais narcisistas, que competem entre si
- Não respeitam os outros
Geração N: é preciso aprender a dizer NÃO às crianças
Por Juliana Bublitz - A dificuldade dos
pais em impor limites colabora para formação de jovens egocêntricos.
Quem tem filho, sabe: dizer não a crianças e adolescentes virou um
desafio em diferentes sentidos. Se num passado não muito distante as
decisões paternas eram inquestionáveis e tinham amparo na palmatória,
hoje os pais do século 21 vivem dias incertos. A dificuldade de impor
limites é tanta que em países como Estados Unidos já se alerta para os
riscos de um futuro minado por jovens incapazes, acostumados desde a
mais tenra idade a ter o ego inflado e todos os caprichos atendidos. Ao
tratar do assunto no The Huffington Post, o escritor, articulista e
ensaísta Rob Asghar, da Universidade do Sul da Califórnia, desencadeou a
polêmica. Preocupado com a forma como os norte-americanos estão
educando os filhos, Asghar identificou o surgimento do que chamou de
Geração N - ou Narcisista. Uma linhagem marcada pela total falta de
limites e por um senso de merecimento fora do comum. Quase doentio.
Por trás do fenômeno, concluiu Asghar, estariam pais angustiados.
O trabalho em excesso e a correria do
dia a dia teriam assumido a forma de culpa. O medo de perder o amor dos
filhos acabaria levando muitos casais a cederem aos caprichos
infanto-juvenis sem ponderações. O resultado disso, na avaliação do
escritor, já pode ser detectado nas ruas dos Estados Unidos: estaria
visível na conduta de jovens que se sentem no direito de tudo, sem
trabalhar duro por nada.
Por essas e por outras conclusões, o artigo acabou pautando discussões acaloradas em foros virtuais e na mídia.
No Brasil, não é diferente. Afinal,
diante da falência dos velhos modelos, qual é o melhor caminho para
educar um filho? A resposta, segundo especialistas, não é tão simples
quanto as conclusões de Asghar parecem indicar.
Para o psiquiatra gaúcho José Outeiral,
especialista no atendimento a crianças e adolescentes, as especulações
do escritor são "banais" e "boas para vender livro". Avesso a
generalizações, Outeiral argumenta que pais que dão tudo aos filhos nem
sempre estão errados e que há condutas muito mais preocupantes.
– A depressão e a tendência antissocial
não se devem a mimos em excesso na infância, mas a dificuldades de se
estabelecer vínculos consistentes entre pais e filhos. O problema maior
está no abandono – ressalta o especialista.
Sarah, quatro anos, filha da chefe de
cartório Aline Paim de Campos Carvalho, 35 anos, e do empresário Clênio
Carvalho, 50 anos, desconhece o alerta feito por Outeiral. Desde que
nasceu, a menina é o centro das atenções dos pais, que não poupam
carinho e amor. Nem presentes.
"A geração de pais que se deixa
manipular pelos filhos precisa alertá-los de que a vida envolve provas,
desafios, desapontamentos e competição, e não uma sucessão de festas de
aniversário."
"Converse com qualquer empregador de
jovens e ele lhe dirá: "Os jovens de hoje não sabem como conquistar
qualquer coisa. Eles esperam que tudo seja entregue a eles." Sim, eles
se sentem no direito. Nós, doutores Frankstein, não imaginamos que isso
fosse acontecer."
Trechos extraídos do artigo do escritor norte-americano Rob Asghar, publicado no jornal The Huffington Post
Cartilha dos pais conscientes
Sarah acumula uma coleção de brinquedos
de dar inveja a muitas crianças: são cerca de 60 Barbies de todos os
estilos – o que equivale a uma média de 15 bonecas por ano. Ela também
tem a coleção inteira das Little Mommy, bebês que espirram, falam
inglês, caminham e escovam os dentes.
Apesar de tantos mimos, a mãe garante: a
primogênita sabe que tem limites. É ensinada a respeitar os outros e a
ajudar o próximo, inclusive separando bonecas para doação. Na opinião de
Aline, esse é o diferencial em relação ao que ocorre nos Estados
Unidos, onde o culto ao materialismo estaria se sobrepondo a valores
básicos.
– A Sarah ganha muitos presentes. E eu
adoro dar, tenho condições para isso e não tenho por que negar. Mas tem
uma coisa fundamental: eu faço questão de que ela tenha plena
consciência de que trabalho duro para isso – diz Aline.
Na casa dos oftalmologistas Carina
Graziottin Colossi, 37 anos, e Manuel Vilela, 47 anos, o equilíbrio na
educação de Antônio, 5 anos, também é motivo de preocupação. Filho
único, ele teimava em ganhar presente sempre que ia ao shopping. Para
mudar isso, Carina investiu no diálogo. Combina com Antônio se haverá ou
não presentes antes de sair de casa. Ele aceita. Por ter pouco tempo
com o filho em função do trabalho, a mãe admite que se sente culpada
quando precisa dizer não:
– É difícil, porque as crianças
questionam tudo hoje em dia. É importante, porém, que saibam lidar com
as frustrações desde cedo. Eu me preocupo muito com isso.
Para a professora de Psicologia da
Educação Tania Beatriz Iwaszko Marques, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), Carina está certa ao se preocupar. Estabelecer
limites e dizer não quando necessário, segundo a educadora, são atos de
amor. Não de dor.
– Se achar que precisa dizer não, o pai
deve fazer isso sem ceder a chantagens. Inconscientemente, o filho vai
sentir que ele se preocupa. As crianças precisam disso – aconselha
Tania.
Essa cartilha é seguida à risca pelos
advogados Márcia e Antônio Ciriaco, cujos filhos estudam no Colégio
Militar de Porto Alegre, conhecido por pregar a disciplina.
O mais velho, Pedro, 16 anos, está se
formando e tem uma rotina rigorosa de estudos - inclusive aos sábados e
domingos. A caçula, Luísa, de 11 anos, segue o exemplo do irmão e usa a
tradicional boina vermelha com orgulho.
Vaidosa, ela bem que tentou ir à aula
com as unhas pintadas. Embora tenha conseguido convencer a mãe, as
regras da escola impediram. Luísa acabou tirando o esmalte, mas não
ficou triste. Está acostumada a respeitar regras e princípios. Além de
ter optado por estudar em uma instituição militar, é adepta do
escotismo.
– Nunca tivemos problemas. Mas às vezes a gente diz não. Se for preciso, fincamos o pé – afirma Márcia.
A atitude, segundo o psiquiatra Renato
Piltcher, da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, está
correta. Piltcher afirma que o maior erro que uma mãe ou um pai podem
cometer é projetar no filho o ideal de uma vida sem frustrações.
Ao dar tudo o que a criança pede e tecer
elogios intermináveis, o responsável pode estar formando um adulto que,
muito provavelmente, se desapontará com extrema facilidade. E que, por
medo de não conseguir, deixará de tentar - seja o que for. Na opinião do
psiquiatra, não há problema em dar bens materiais às crianças, desde
que os pais não se esqueçam de algo não só importante, como fundamental:
transmitir valores e ensinar o significado da palavra ética.
:: Não tenha receio de dizer "não" quando necessário, mesmo que seu filho chore e que você se sinta culpado.
:: Tente não transparecer insegurança ao dizer "não".
:: Deixe claras as razões pelas quais disse "não" e não volte atrás na decisão.
:: Ensine a criança ou o adolescente a se colocar no lugar do outro, para que aprenda a respeitá-lo.
:: Dê o exemplo. Se você disser para seu filho que ele não deve gritar, jamais diga isso gritando.
:: Lembre-se: o diálogo é o melhor aliado na educação. Converse muito com seu filho e não o subestime.
Autor do livro Adolescer, o psiquiatra
gaúcho José Outeiral, com quase quatro décadas de experiência no
atendimento a famílias, crianças e adolescentes, discorda das conclusões
do escritor norte-americano Rob Asghar. Para ele, é preciso tomar
cuidado com generalizações.
Donna - O escritor norte-americano Rob
Asghar alerta para o surgimento da chamada Geração N, formada por jovens
narcisistas, acostumados a ter tudo e incapazes de trabalhar duro. Como
o senhor avalia isso?
José Outeiral - É uma generalização que
não traduz a realidade. Além do mais, há muito tempo se escreve que a
cultura contemporânea é marcada pelo narcisismo, basta ler as obras de
autores como Bauman (Zygmunt Bauman, autor de Modernidade Líquida, entre
outros livros).
Donna - Asghar afirma que os pais podem estar formando uma geração de jovens incapazes. O senhor concorda?
Outeiral - Isso é uma banalização, um exagero. É o tipo de frase que serve para vender livro. Sempre existiram crianças mimadas, com baixa tolerância a frustrações, mas não se pode generalizar.
Outeiral - Isso é uma banalização, um exagero. É o tipo de frase que serve para vender livro. Sempre existiram crianças mimadas, com baixa tolerância a frustrações, mas não se pode generalizar.
Donna - Muitos pais se torturam diante do dilema de impor limites às crianças. Isso é um problema?
Outeiral - O problema maior hoje é o abandono, nas diferentes classes sociais, contribuindo para quadros graves de depressão.
Outeiral - O problema maior hoje é o abandono, nas diferentes classes sociais, contribuindo para quadros graves de depressão.
Presidente da Associação Brasileira de
Psicopedagogia no Estado, a gaúcha Fabiani Ortiz Portella concorda que a
falta de limites da chamada Geração N é preocupante. Na opinião da
especialista, os pais devem dizer não, mesmo que se sintam culpados.
Donna - O escritor norte-americano Rob
Asghar alerta para o surgimento da chamada Geração N, formada por jovens
narcisistas, acostumados a ter tudo e incapazes de trabalhar duro. Como
a senhora avalia isso?
Fabiani Ortiz Portella - Tenho visto que
muitos pais estão pecando ao não impor limites. A vida está tão corrida
que a maioria não consegue mais parar para falar com os filhos,
explicar o porque do não, dar referências básicas. Nesse sentido, acho
que o autor está certo.
Donna - Asghar afirma que os pais podem estar formando uma geração de jovens incapazes. A senhora concorda?
Fabiani - O que percebo é que as crianças de hoje estão mostrando um potencial surpreendente. São rápidas e inteligentes, muito mais do que nós fomos nessa época.
Fabiani - O que percebo é que as crianças de hoje estão mostrando um potencial surpreendente. São rápidas e inteligentes, muito mais do que nós fomos nessa época.
Donna - Muitos pais se torturam diante do dilema de impor limites às crianças. Isso é um problema?
Fabiani - O grande pecado que cometemos é não conversar o suficiente e não ensinar valores morais. A minha recomendação é que os pais digam não. Emílio Pedroso
Fabiani - O grande pecado que cometemos é não conversar o suficiente e não ensinar valores morais. A minha recomendação é que os pais digam não. Emílio Pedroso
Fonte: Rede Aquariana
Revista DONNA, Jornal Zero Hora, Porto Alegre/ RS
Revista DONNA, Jornal Zero Hora, Porto Alegre/ RS
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