domingo, 27 de outubro de 2013

AS “CAVEIRAS E OSSOS” DA POLÍTICA DOS ESTADOS UNIDOS

O CÓDIGO E A ACADEMIA DO PODER
Sede da ordem Skull and Bones
Sede da ordem Skull and Bones
Em New Haven, cidade estadunidense localizada no estado de Connecticut, funciona um dos mais respeitáveis centros universitários do mundo, a famosa Yale University. Instituições de ensino como Yale tradicionalmente respondem pela formação universitária da elite dos EUA e não há de ser estranho para ninguém a evidência de que muitos dos egressos da universidade acabem constituindo-se como notáveis figurões das ciências, da política ou também das artes de fazer dinheiro, afinal, além da altíssima e qualificada formação obtida, um diploma emitido por Yale confere status, respeitabilidade e até poder ao seu felizardo contemplado. Além de suas qualidades acadêmicas, em Yale ronda um mistério em torno de uma enigmática instituição estudantil. A irmandade acadêmica Skull and Bones é mais que um grupo de afiliação estudantil, trata-se de uma verdadeira ordem secreta cuja atuação suscita especulações das mais diversas e alimenta uma mística que vai muito além do campus, atingindo patamares tão amplos quanto insólitos a exemplo das maquinações pela ação do governo dos EUA sobre o Golfo Pérsico. O fato é que os integrantes efetivos e afetivos da Skull & Bones, os bonesmen, atuam de maneira a alimentar a mística e a preocupar os especuladores e propagadores das teorias de conspiração.
Impresso contendo lista dos membros da Ordem, incluindo o nome de Prescott Bush, pai e avô de dois presidentes dos EUA.
Impresso contendo lista dos membros da Ordem, incluindo o nome de Prescott Bush, pai e avô de dois presidentes dos EUA.
A Skull & Bones é um bastião da elite estadunidense, reduto da tradição cultural e política da fração protestante branca e anglo-saxã (a velha identificação conhecida formalmente nos EUA como WASP – White Anglo Saxon Protestant). Sua reputação é muito mais significativa que das demais agremiações secretas que funcionam em Yale (Scroll & Key, Book & Snake, Wolf’s Head, Eliahu e Berzelius), todas, contudo, seletas ordens elitistas que recrutam para os seus quadros os indivíduos mais promissores da universidade. Em termos competitivos, provavelmente, a única entidade de Yale capaz de impor uma concorrência à Skull & Bones é a Scroll & Key, e, em termos atuais, ambas possuem, respectivamente, identificações predominantes ao Partido Republicano e ao Partido Democrata, reproduzindo a polarização entre conservadores e liberais. Harvard e Princeton, que formam juntamente com Yale o grupo de elite das instituições superiores dos EUA, também possuem suas influentes ordens secretas, contudo, nenhuma delas possui tamanha atuação efetiva pelos subterrâneos e superfície da política estadunidense. 
Desde sua fundação, em função da alta seletividade da Skull & Bones, que recruta anualmente apenas 15 membros, cerca de 2.500 bonesmen tiveram o privilégio de ostentar tal identificação e hoje em dia há em torno de 600 deles vivos, mas em geral ocupando importantes posições. Tradicionalmente não eram admitidos na ordem membros que não preenchessem os requisitos elementares prescritos pela composição daquilo que se compreende como critérios para a identificação da classificação social elitista da facção WASP da sociedade estadunidense, mas os ventos liberais e a política da inclusão forçaram a admissão de judeus, negros e também de descendentes de estrangeiros bárbaros, afinal, já há bonesmen de ascendência chinesa. Este é um sinal de modernidade que é enriquecido pela mais recente iniciativa de admitir a afiliação de homossexuais. Mas, apesar destas concessões liberais, a Skull & Bones mantém critérios seletivos quanto ao universo de candidatos a prováveis irmãos de ordem. Um requisito inicial é a própria educação secundária, pois há preferência por candidatos egressos de tradicionais e prestigiosas High Schools que atendem exatamente a jovens abastados. Além do mais, a seleção leva em consideração a vivência aventureira do candidato. Pretendentes que já ousaram a enfrentar selvas africanas, intempéries sul-americanas, desertos e riscos eminentes no Oriente conquistam valiosos pontos nesta fase de pretensão à filiação. Os candidatos são criteriosa e severamente avaliados pelos membros sênior da ordem e submetidos a testes e entrevistas que buscam aferir as potencialidades e capacidade integrativa dos candidatos ao corolário e ideário da Skull & Bones. 
Especula-se que a Skull & Bones inspira-se na tradição maçônica européia (altamente influente no Brasil do Século XIX). Sua cerimônia de iniciação é marcada por uma simbologia mórbida, mas curiosa. Os iniciantes, despidos, deitam-se num caixão que é carregada pelo salão da sede da irmandade. Eles reverenciam a insígnia da ordem (um crânio sobre dois ossos cruzados acima da inscrição “322″, alusiva ao ano de 322 a.C., ano em que a deusa Eulogia apareceu no céu após a morte de um orador grego. A crença diz que ela retornaria em 1832) e depois saem do ataúde mortuário como sinal de que estão marcando seu renascimento para um novo mundo iluminado, guardando, cada um, em um local específico, um osso entalhado com o nome dos novos iniciados. O ato cerimonial de iniciação é cercado por gestos e atos simbólicos que inspiram controvérsias e polêmicas – dizem que o velho Prescot Bush, pai do ex-presidente George Bush e avô do atual presidente dos EUA, George W. Bush, todos eles bonesmen, usurpou o túmulo do legendário herói indígena Jerônimo para roubar seus ossos, que teriam servido para um dos rituais da ordem secreta. Dizem mais que as controvertidas histórias sobre os rituais da ordem são também alimentadas pelos próprios integrantes do grupo para manter o mistério a respeito das atividades ritualísticas desenvolvidas na cripta da Skull & Bones no campus de Yale. 
Rituais à parte, o fato é que os bonesmen assumem o compromisso de seguir determinados princípios como a dedicação ao engrandecimento da nação conforme o receituário prescrito pelo treinamento ideológico prestado pela ordem. Mas eles lançam mão de certos artifícios retórico-discursivos nos quais são instruídos e hábeis para exercer suas atribuições segundo os ideais da Skull & Bones. É este o caso do emprego deliberado da discrição quase enigmática quanto a exposição de seus intentos e a ambigüidade normalmente presente nas peças retóricas expressas pelos irmãos de Yale. Mas engana-se quem imaginar que estas características retóricas são defeitos no processo de construção e apresentação dos pensamentos e atos elaborados por estes hábeis praticantes, pois os bonesmen são habituados a praticar seus métodos de discrição e ambigüidade como instrumentos de exercício do controle e domínio (fundamento que chamam de “wielding”). Aquilo que um bonesmen fala é marcado por noções subliminares que normalmente não ficam claras para um interlocutor desavisado.
O processo didático da construção de um bonesmen é sutil e decisivo. Nos tempos de academia, um bom integrante da Skull & Bones precisa exercer atividades desportivas com finalidades relativas ao exercício das habilidades de liderança, pois um bonesmen é, antes de tudo, um líder. Não há de se estranhar que dois dos esportes populares nos EUA, o baseball e a sua versão de futebol inspirada no rugby inglês são experimentos desportivos engendrados por bonesmen. Em esportes coletivos o processo de aprendizagem das competências dos irmãos de Yale é bastante exercido. O bonesmen Gorge Bush pai, embora não tenha sido um habilidoso jogador de baseball, foi capitão da equipe universitária de Yale. Guiar equipes e comandar vitórias é uma habilidade comum aos esportes coletivos, mas também é uma capacidade fundamental em uma espécie mais drástica de competição: a guerra. Nos ensinamentos difundidos no processo de formação da Skull & Bones admite-se que embora as idéias tenham a capacidade de transformar verdadeiramente a história, quase sempre a guerra acaba sendo empregada para realizar este fim. 
Jovens membros da ordem
Jovens membros da ordem
A Skull & Bones difunde um código de postura, conduta e filosofia que bem representam o senso puramente WASP do segmento elitista dos EUA. Mas este código não é universal, ao contrário, é segmentado exatamente porque é elitista. Quando comparamos códigos, o que vemos na Skull & Bones é bem distinto daquilo que se percebe, por exemplo, nas normas de conduta do código samurai do Bushido japonês, que valoriza a honra entre os guerreiros contendedores e preconizou uma visão eminentemente ética e moral do mundo. O código Skull & Bones preconiza a noção de que aquilo que não representa é algo simplesmente inferior, isto é, a própria relação à excludente identificação do segmento da elite que representa (uma elite dentro da identificação WASP) por si já determina a diferença entre os dois códigos.
A visão Skull & Bones na política estadunidense é de notável influência, já que muitos de seus integrantes tomaram parte da vida pública do país desde os idos dos fins do século XIX. Esta visão típica dos bonesmen sobre a condução dos EUA não é assunto que deixe de merecer ser notado, sobretudo, quando mais um de seus pares ocupa a presidência do país, após uma reeleição disputada contra um adversário que também ostenta a condição de irmão da ordem de Yale (assim como Goerge W. Bush, o democrata John Kerry também foi forjado nas fileiras da Skull & Bones).
O MESTRE
O mestre Stimson
O mestre Stimson
George W. Bush é membro da Skull & Bones assim como seu pai, que também governou os EUA e meteu o país numa onerosa guerra no Golfo Pérsico. Bonesmen são tradicionais na família Bush, pois seu avô e um outro tio paterno também passaram pelo ritual de renascimento celebrado em Yale, logo, há de se perceber que a lógica que norteia as ações de Bush tem influências que partem de seu berço de constituição de valores – a própria família. O jovem George Walker Bush, portanto, já possuía um promissor retrospecto para integrar a entidade em cujas fileiras já militaram outros de seus entes relativos, isso além de ser um autêntico representante da ordem encarnada na noção de WASP. 
A tradição da ordem Skull & Bones na Casa Branca não é recente. A ação política dos bonesmen manifestou-se de maneira a influir na adoção de caminhos que se coadunavam com o espírito e o código da Skull & Bones. O presidente William McKinley sofrera pressões da ordem em função de sua tímida postura de política externa. Sob pressão dos iluminados homens de Yale, seu governo decidiu adotar uma postura mais ofensiva frente às nações “inferiores” e, em 1898, agiu sobre Cuba, inaugurando uma já tradicional relação de amor e ódio entre as duas nações. Estava marcada assim uma fase expansionista sobre nações estrangeiras. Com a guerra contra os latino-americanos hispânicos a relação da Skull & Bones com o Partido Republicano teve também seu início. Na convenção republicana de 1900, os bonesmen ascenderam ao controle do partido e impuseram a McKinley a aceitação de Theodore Roosevelt como seu vice-presidente no pleito nacional que se aproximava. Em 1901 McKinley foi assassinado durante uma viagem pelo estado de Nova York e Teddy Roosevelt foi então conduzido ao governo dos EUA como primeiro bonesman a governar o país. Seu sucessor, William Howard Taft, também era seu irmão da Skull & Bones.
Uma grande referência política dentre os bonesmen foi o ideólogo e conselheiro Henry Lewis Stimson, cuja atuação e influência lhe valeram o título de “mestre bonesman”. Dizem que durante o processo de tomada de decisão pela invasão ao Iraque, em 1991, Bush I dedicou-se, na tranqüilidade do Camp David, a reler uma biografia de seu ídolo bonesman e enquanto seu conselho de analistas deliberava sobre a forma de ação contra o Iraque por ocasião da crise do golfo, quando o Kwait foi invadido por ordem de Saddan Hussein, o presidente já possuía uma posição formada e favorável ao ataque. Os ensinamentos de Stimson foram valiosos para esta decisão. 
Stimson ingressou na Skull & Bones em 1888 e prestou seus serviços a sete dos ocupantes da Casa Branca: Theodore Roosevelt, William Howard Taft, Woodrow Wilson, Calvin Coolidge, Herbert Hoover, Franklin Delano Roosevelt e Harry Truman, cumprindo uma sólida carreira de articulador, consultor e integrante do staff governamental estadunidense. Em seu legado de atuação está a supervisão do Projeto Manhattan, cujo resultado foi o desenvolvimento tecnológico e estratégico das bombas atômicas que foram lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki no final da Segunda Guerra Mundial. Anos antes, quando ocupava a Secretaria de Estado no governo Hoover (1929-1933), atuou nas articulações que impuseram a redução das forças ofensivas da Marinha Imperial Japonesa durante a Conferência Naval de Londres. Foi um dos arquitetos dos provocativos planos de restrições ao Japão que acabaram por influenciar o ataque que as tropas nipônicas fizeram contra a base estadunidense em Pearl Harbor, situação que provocou o ingresso dos EUA na guerra. Contanto pontos em seu currículo de serviços prestados, constam sua decisiva participação no desenvolvimento da idéia da criação dos campos de aprisionamento de japoneses e nisseis em território estadunidense durante o governo de Franklin Roosevelt, além de ter desenvolvido um plano, felizmente não executado, de bombardeio a Kyoto, um dos principais e tradicionais centros urbanos japoneses, como ultimato ao Japão pela rendição. Uma cartada de mestre atribuída a Stimson foi a decisão de preservar o trono do império japonês sob Hiroito, que não fora deposto por uma decisão estratégica que viabilizaria maiores condições de influência dos EUA nos planos de reconstrução e realinhamento do Japão no pós-guerra. Além de arquitetar o projeto de trilha a ser seguida pelo Japão derrotado, Stimson também teve forte atuação nos bastidores do plano de ocupação, reestruturação e ordenamento da Alemanha. A notável experiência de Stimson e sua visão utilitária do emprego da influência política e poderio militar dos EUA serviram como inspiração para Bush I, que decidiu levar a lição de seu mestre como ensinamento prático para sua decisão pela guerra contra o Iraque.
Diferentemente de seu discípulo presidencial, Stimson não provinha de um clã de bonesmen, ele ascendeu à ordem por “merecimento” e pelo reconhecimento de suas habilidades naturais e talento indiscutível pela atuação política pela grandiosidade dos EUA. Ele costumava creditar à Skull & Bones uma grande importância em sua formação e conforme seu biógrafo Geoffrey Hodgson, os tempos de vivência e aprendizado na entidade corresponderam “a experiência educacional a mais importante em sua vida”. Stimson foi admitido como bonesman mesmo sem ter origem rica, embora seus antepassados tenham sido alguns dos pioneiros puritanos na colonização dos EUA, ainda assim ele era um autêntico WASP. Em Yale seu espírito competitivo era uma de suas marcas a tal ponto que afirmava que “a idéia de um esforço para prêmios, foi sempre um dos elementos fundamentais de minha mente e eu mal posso conceber o que seria de meus sentimentos se eu fosse posto sempre em uma posição ou em uma situação na vida onde não houvesse nenhum prêmio pelo qual me esforçar”. Este espírito competitivo foi praticado também no extremo: já em uma idade amadurecida, aos 44 anos, Stimson aderiu ao Exército e tornou-se combatente na Primeira Guerra Mundial mesmo que já tenha acumulado experiência em sua vida na advocacia e no mundo da política em Washington e ganhou sua fama com o apelido sugestivo de “O Coronel”. O político e arquiteto de guerras experimentou a vida de combatente nas forças expedicionárias estadunidenses na Europa. 
No período que antecedeu a Segunda Guerra Stimson comandava um batalhão próprio de bonesmen em Washington em seu Departamento de Guerra. O grupo chamado de “Jardim da Infância de Stimson” era composto pelo alto staff dos arquitetos da participação dos EUA na guerra O grupo era formado por personalidades como John McKoy, secretário-assistente de Estado e posteriormente comissário dos EUA na Alemanha pós-guerra, Robert Lovett era o assistente imediato de Stimson, com quem aprendeu a atuar nos bastidores da política até tornar-se um dos principais e influentes assessores de John Kennedy, Harvey Bundy, outro de seus assessores de primeira linha, era um bonesman fiel ao seu líder e juntara ao grupo dois de seus filhos, McGeorge e William Bundy, também bonesmen, à equipe de assessores e coordenadores de guerra sob o comando de Stimson. O “Jardim de Infância” também era integrado por Dean Acheson, também um de seus preferenciais assistente e futuro conselheiro e Secretário de Estado no governo Truman (Acheson não era bonesman, mas era membro de outra fraternidade secreta de Yale – Skroll & Key) e contava ainda o grupo com a participação do general George Marshall, chefe de comando do Exército durante a Segunda Guerra e também futuro Secretário de Estado de Truman. Este grupo de ideólogos da atuação estadunidense na guerra teve seu núcleo conhecido como “Círculo Stimson-Marshall- Achelson” e seus integrantes eram figuras-chave do staff político durante a guerra e também no processo de implementação dos planos de reconstrução e alinhamento do pós-guerra como iniciadores das estratégias de isolamento do bloco soviético, sendo então pioneiros na estratégia de implantação da Guerra Fria, incluindo o processo fomentador da intromissão militar estadunidense na Coréia.
Stimson morreu em 1950, contudo, sem conseguir levar adiante a influência de seu grupo sobre a condução política da Casa Branca e seus discípulos do “Jardim de Infância” foram aos poucos tendo sua influência declinada. Já em 1947, com a Lei de Segurança Nacional, o Departamento de Guerra fora reestruturado como Departamento de Defesa, constituído por uma burocracia civil que viria posteriormente a abrigar muitos membros da Skull & Bones e Robert Lovett, por exemplo, viria a assumir o comando do Departamento em 1950. A lei de 1947 também criou a CIA (Central Intelligence Agency) como organismo que sucederia o núcleo de estratégia (OSS – Office os Strategic Service) que vigorava durante o período da guerra e posteriormente as atribuições do grupo de coordenação política que também funcionava sob o comando de Stimson passaram a ser exercidas pela CIA. A Agência de Segurança Nacional (NSA) também foi criada neste período subordinada também ao Departamento de Defesa, ampliando o espectro da rede de controle e investigação do Estado. Estas agências tornaram-se redutos de atuação de bonesmen ao ponto em que a imagem da CIA e da Skull & Bones passaram a ser freqüentemente associadas uma a outra.
A forte influência dos bonesmen na estrutura da CIA é apontada como um dos legados de Henry Stimson, pois o OSS, organismo antecessor da CIA, fora inicialmente constituído por quadros técnicos e funcionais forjado na Skull & Bones e esta relação entre os “iluminados” de Yale e o serviço secreto institucional permaneceu ativa. 

PRESIDENTES DA ORDEM
Durante a presidência de John Fitzgerald Kennedy (a quem o historiador britânico Eric Hobsbawm qualifica como “o presidente mais superestimado dos EUA”), os irmãos de Yale desfrutavam de grande prestígio e influência. Diversos e experimentados bonesmen que integravam os mais próximos escalões da administração JFK constituíam também um grupo que adotou uma obcecada vontade de investir militarmente sobre o longínquo Vietnã. Era uma postura que contava com o desacordo da profética advertência do general Douglas MacArthur, conselheiro militar de JFK, que repetia a quem quisesse ouvir que era um erro o envolvimento dos EUA em uma guerra na Ásia. As conversas reservadas com MacArthur fizeram com que Kennedy tivesse sérias dúvidas a respeito de uma ação militar nas selvas chuvosas do país de Ho Chi Min, fato que o levou a protelar qualquer decisão a esse respeito. Sua morte, contudo, abriu caminho para que os intentos pela guerra fossem por fim executados por Lindon Johnson que fora o sucessor de JFK e, como muitos dos presidentes dos EUA, também teve nos arredores do Salão Oval uma forte participação de assessores da Skull & Bones. 
De uma maneira geral, contudo, os bonesmen andavam divididos em relação à guerra. Dentre os descontentes estava McGeorge Bundy, que deixara o governo Johnson, passando a apoiar e financiar o movimento anti-guerra através dos fundos da Fundação Ford, entidade que então passou a presidir. Bundy, que integrou o “Jardim de Infância” de Henry Stimson, acabou tomando parte de uma ala de bonesmen a posicionar-se critica e combativamente contra a guerra do Vietnã, enquanto um outro segmento da irmandade mantinha-se aliado à noção de que a guerra deveria ser travada até o fim – embora o “fim” da guerra não tenha sido aquele que idealizavam. O tempo da geração de bonesmen formada ao redor de Stimson havia chegado ao fim quando Richard Nixon ascendeu ao poder e consagrou a eminência-parda encarnada na figura de Henry Kissinger em cuja atuação manteve uma barreira à influência da Skull & Bones dentro da Casa Branca. Ainda assim, há quem impute aos bonesmen, sempre atuantes nas instâncias da CIA, uma grande participação no processo de derrubada do Nixon através do escândalo de Watergate. 
Gerald Ford assumiu a presidência após a derrocada de Nixon em 1974 e os bonesmen passaram a ensaiar o seu retorno. Kissinger e seus aliados começaram a perder espaço. James Schlesinger foi substituído por Donald Rumsfeld como Secretário de Defesa e William Colby, diretor da CIA, perdeu seu cargo para George Bush. Os bonesmen estavam mesmo tentando recompor suas tradicionais posições na Casa Branca, mas a eleição de Jimmy Carter, em 1976, impôs uma frustrante interrupção em seus planos. O retorno teve que esperar e ser procedido de forma lenta e gradual. Bush retornou às raias do governo como suplente presidencial do canastrão Ronald Reagan entre 1980 e 1984 e então articulou sua própria ascensão ao cargo de maior importância política do mundo. Juntamente com ele, a Skull & Bones retornou à Casa Branca de maneira tão confortável quanto nos tempos de Stimson. 
Durante o governo de Bush I a velha Skull & Bones recompôs suas posições e executou um de seus principais passatempos – a guerra. Especula-se que a tática empregada na motivação da invasão ao Iraque em 1990 teve relação de semelhança ao que se dera na entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial quando o Japão, segundo os analistas-especuladores, foi praticamente colocado na posição de ter que atacar os americanos em Pearl Harbor. O estratagema empregado foi lançar uma isca a ser fisgada pela presa. No caso da Guerra do Golfo a isca teria sido o Kwait, mas o propósito da guerra teria sido muito mais abrangente do que a simples defesa do país atacado pelo Iraque. Levou-se em consideração o domínio da região produtora de petróleo no Golfo Pérsico e também o controle dos preços desta preciosidade subterrânea no mercado internacional. 
Nem tudo estava tão perfeito assim para os belicosos bonesmen de Bush I, afinal, democrata Bill Clinton sobrepujou o então candidato à re-eleição e impôs um novo intervalo na relação da Skull & Bones com a Casa Branca. O governo Clinton caiu em desgraça por razões não-políticas. Clinton, sua incansável libido e apreço por sexo com estagiárias escandalosas acabaram contribuindo para que os bonesmen encontrassem mais uma oportunidade de retornar ao poder. Os democratas tentaram manter-se no governo indicando o sem-graça Al Gore para suceder Clinton, mas o clã Bush e os republicanos ofereceram como opção um trapalhão George W. Bush, herdeiro político de Bush I. A eleição foi cômica e Bush II venceu sem ter vencido. Os bonesmen retornaram ao poder. 
Bush II teve a oportunidade de lançar-se numa outra guerra e mais uma vez tomando um acontecimento dramático como estopim – o famigerado 11 de setembro – a desencadear toda a ação bélica capitaneada pelos mesmos intentos predatórios que consagraram a Skull & Bones. A guerra contra o terror, além da balela de encontrar as sempre inexistentes “armas de destruição em massa” sob o controle de Saddan Hussein – outrora aliado dos bonesmen da Casa Branca – foi empregada como justificativa ao ataque contra o Iraque numa repetição grosseira da guerra que já foi desenhada pelos arquitetos da primeira Guerra do Golfo. 
Os democratas tentaram combater Bush usando “fogo contra fogo”, indicando o senador ex-combatente John Kerry, um bonesman das fileiras anti-Bush, para disputa do processo sucessório pela Casa Branca. Tentou-se, talvez, instaurar um ambiente de divisionismo entre os bonesmen em torno do tema central da eleição – a guerra. A divisão entre os irmãos de Yale já havia sido evidenciada por ocasião da Guerra do Vietnã, quando os bonesmen anti-guerra posaram de heróis pacifistas, mas desta vez a eleição de Bush II, apesar da torcida contrária de boa parte da opinião pública internacional que se preze, acabou sendo mesmo inquestionável. 
Bush II segue seu mandato rodeado por seus falcões e seus irmãos da Skull & Bones e fazem um governo, no mínimo, complicado.

Fonte

http://historiablog.wordpress.com/2008/10/02/as-caveiras-e-ossos-da-politica-dos-estados-unidos/

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