Aterrorizados pela 'guerra ao terror'
A "guerra ao terror" criou uma cultura do medo na América. A elevação, pela administração Bush, destas três palavras a uma lenga-lenga nacional, após os horríficos acontecimentos do 11/Set, teve um impacto pernicioso sobre a democracia americana, sobre a psique americana e sobre a posição dos EUA no mundo. A utilização desta frase realmente minou a nossa capacidade para confrontar efectivamente os desafios reais que enfrentamos por parte dos fanáticos que possam utilizar o terrorismo contra nós.
O dano que estas três palavras fizeram – um golpe auto-infligido clássico – é infinitamente maior do que os sonhos mais loucos mantidos pelos fanáticos perpetradores dos ataques do 11/Set quando conspiravam contra nós em distantes cavernas afegãs. A própria frase é sem significado. Ela não define nem um contexto geográfico nem os nossos presumidos inimigos. O terrorismo não é um inimigo e sim uma técnica de guerra – a intimidação política através da morte de não combatentes desarmados.
Mas o pequeno segredo aqui pode ser que a imprecisão da frase fosse deliberadamente (ou instintivamente) calculada pelos seus promotores. A referência constante a uma "guerra ao terror" cumpriu um objectivo maior: Estimulou a emergência de uma cultura do medo. O medo obscurece a razão, intensifica as emoções e torna mais fácil para políticos demagogos mobilizar o público para as políticas que quiserem aplicar. A guerra escolhida no Iraque nunca poderia ter ganho o apoio do Congresso sem a ligação psicológica entre o choque do 11/Set e a postulada existência de armas iraquianas de destruição maciça. O apoio ao presidente Bush nas eleições de 2004 também foi mobilizado em parte graças à noção de que "uma nação em guerra" não muda o seu comandante em chefe no decorrer da mesma. O senso de um perigo difuso mas impreciso foi então canalizado numa direcção politicamente conveniente pelo apelo mobilizador do "estamos em guerra".
Para justificar a "guerra ao terror", a administração recentemente carpinteirou uma falsa narrativa histórica que poderia mesmo tornar-se uma profecia auto-cumprida. Ao clamar que esta guerra é semelhante a lutas americanas anteriores contra o nazismo e o estalinismo (ignorando o facto de que tanto a Alemanha nazi como a Rússia soviética era potências militares de primeira classe, estatuto que a al-Qaeda não alcançou nem pode alcançar), a administração podia estar a preparar o processo para a guerra com o Irão. Tal guerra mergulharia a América num prolongado conflito abarcando o Iraque, o Irão, o Afeganistão e talvez também o Paquistão.
A cultura do medo é como um génio que foi libertado da sua garrafa. Ela adquire uma vida por si própria – e pode tornar-se desmoralizadora. A América de hoje não é a nação auto-confiantes e determinada que respondeu a Pearl Harbor, nem é a América que ouviu do seu líder, em outro momento de crise, as poderosas palavras "a única coisa que temos a temer é o próprio medo", nem é a tranquila América que travou a Guerra Fria com serena persistência apesar de saber que uma guerra real poderia ser iniciada abruptamente dentro de minutos e conduziria à morte de 100 milhões de americanos em apenas umas poucas horas. Nós agora estamos divididos, incertos e potencialmente muito susceptíveis ao pânico no caso de outro acto terrorista nos próprios Estados Unidos.
Isto é o resultado de cinco anos de quase contínua lavagem cerebral no país com o assunto do terror, bastante diferente das reacções mais tranquilas de vários outros países (Grã-Bretanha, Espanha, Itália, Alemanha, Japão, para mencionar apenas alguns) que também sofreram penosos actos terroristas. Na sua mais recente justificativa para a sua guerra no Iraque, o presidente Bush clama mesmo, de forma absurda, que tem de continuar a travá-la a fim de que a al-Qaeda não atravesse o Atlântico para lançar uma guerra de terror aqui nos Estados Unidos.
Tais mercadores do medo, reforçados por empresários de segurança, pelos mass media e pela indústria do entretenimento geram o seu ímpeto. Os empresários do terror, habitualmente descritos como peritos em terrorismo, estão necessariamente empenhados numa competição para justificarem a sua existência. Portanto, a sua tarefa é convencer o público que enfrenta novas ameaças. Isto proporciona uma recompensa na apresentação de cenários críveis de actos de violência cada vez mais horrendos, por vezes até mesmo com os planos para a sua execução.
Que a América tornou-se insegura e mais paranóica é dificilmente debatível. Um estudo recente relatou em 2003 o Congresso identificou 160 sítios como alvos nacionais potencialmente importantes para pretensos terroristas. Com os lobistas a pressionarem, no fim daquele ano a lista havia crescido para 1849; no fim de 2004, para 28.360; em 2005, para 77.769. A base de dados nacional de possíveis objectivos tem agora uns 300.000 registo, incluindo a Sears Tower em Chicago e um Festival da Maçã e do Porco (Apple and Pork Festival) em Illinois.
Na semana passada, aqui em Washington, no meu caminho da visita a um gabinete jornalístico, tive de passar através de um dos absurdos "controles de segurança" que proliferaram em quase todos os edifícios privados de escritório nesta capital – e na cidade Nova York. Um guarda uniformizado exigiu-me que preenchesse um formulário, mostrasse o documento de identificação e neste caso explicasse por escrito a finalidade da minha visita. Será que um terrorista visitante indicaria por escrito que a finalidade seria "explodir o edifício"? Será que o guarda seria capaz de deter um auto-confessado bombista suicida? Para tornar as coisas mais absurdas, grandes lojas de departamentos, com suas multidões de compradores, não têm quaisquer procedimentos comparáveis. Nem tão pouco salas de concertos ou de cinema. Mas tais procedimentos de "segurança" tornaram-se rotina, desperdiçando centenas de milhões de dólares e contribuindo ainda para uma mentalidade de cerco.
O governo tem estimulado a paranóia a todos os níveis. Considere, por exemplo, os avisos electrónicos nas rodovias inter-estaduais a urgirem os motoristas a "Denunciarem actividade suspeita" (condutores com turbantes?). Alguns mass media fizeram a sua própria contribuição. Os canais por cabo e alguns media impressos descobriram que cenários de horror atraem audiências, enquanto "peritos" em terror como "consultores" proporcionam autenticidade às visões apocalípticas dadas a comer ao público americano. Portanto, a proliferação de programas com "terroristas" barbudos como os vilões principais. O seu efeito geral é reforçar o sentimento do perigo desconhecido mas à espreita que se diz estar a ameaçar as vidas de todos os americanos.
A indústria do entretenimento também saltou para a cena. Assim, as séries de TV e os filmes nos quais os maus caracteres têm reconhecíveis feições árabes, por vezes destacadas por gestos religiosos, que exploram a ansiedade do público e estimulam a islamofobia. Os esterótipos faciais árabes, particularmente nas caricaturas de jornais, tem por vezes recordado tristemente campanhas nazis de anti-semitismo. Ultimamente, mesmo algumas organizações de estudantes envolveram-se em tal propagação, aparentemente esquecidas das ameaçadoras conexões entre a estimulação de ódios raciais e religiosos e o desencadear dos crimes sem precedentes do Holocausto.
A atmosfera gerada pela "guerra ao terror" encorajou a perseguição legal e política de árabe-americanos (geralmente americanos leais) por condutas que não têm sido apenas deles. Um caso de destaque é a perseguição relatada do Council on American-Islamic Relations (CAIR) por sua tentativa de emular, não com muito êxito, o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Alguns deputados do Partido Republicano recentemente descreveram os membros do CAIR como "apologistas do terror" aos quais não deveria ser permitida a utilização da sala de reuniões do Capitólio para um painel de discussão.
A discriminação social, em relação por exemplo aos passageiros aéreos muçulmanos, também tem sido um sub-produto não pretendido desta campanha. Não surpreendentemente, o ânimo em relação aos Estados Unidos, mesmo entre muçulmanos não particularmente preocupados com o Médio Oriente, intensificou-se, ao passo que a reputação da América como líder na promoção de relações inter-raciais e inter-religiosas construtivas sofreu rudemente.
O registo é ainda mais perturbador na área geral dos direitos civis. A cultura do medo alimentou a intolerância, suspeição de estrangeiros e a adopção de procedimentos legais que minam noções fundamentais de justiça. A noção de inocente até que se prove culpado foi diluída se não desfeita, com alguns – mesmo cidadãos americanos – encarcerados por longos períodos de tempo sem efectivo e imediato acesso ao devido processo. Não há qualquer evidência conhecida de que tais excessos tenham impedido actos significativos de terrorismo, e de que as convicções de supostos terroristas de qualquer espécie tenham sido reduzidas. Algum dia os americanos ficarão envergonhados com estes registos, tal como agora ficam em relação a exemplos anteriores da história dos EUA em que o pânico de muitos levou à intolerância contra poucos.
Enquanto isso, a "guerra ao terror" prejudicou gravemente os Estados Unidos no plano internacional. Para os muçulmanos, a semelhança entre o rude tratamento de civis iraquianos pelos militares americanos e do palestinos pelos israelenses promoveu um sentimento generalizado de hostilidade para com os Estados Unidos em geral. Não é a "guerra ao terror" que encoleriza os muçulmanos que assistem os noticiários na televisão, é a vitimização de civis árabes. E o ressentimento não é limitado a muçulmanos. Um recente inquérito da BB junto a 28 mil pessoas em 27 países que examinou avaliações dos inquiridos quanto ao papel dos estados nos assuntos internacionais resultou em que Israel, Irão e Estados Unidos foram classificados (nesta ordem) como os estados com "a maior influência negativa no mundo". Aliás, para alguns este é o novo "eixo do mal"!
Os acontecimentos do 11/Set poderiam ter resultado numa solidariedade verdadeiramente global contra o extremismo e o terrorismo. Uma aliança global de moderados, incluindo muçulmanos, empenhados numa campanha deliberada tanto para extirpar redes terroristas específicas como para terminar conflitos políticos que geram terrorismo. Isto teria sido mais produtivos do que uma "guerra ao terror" contra o "islamo-fascismo" proclamada de forma demagógica e em grande parte solitária. Só uma América confiantemente determinada e razoável pode promover a segurança internacional genuína que não deixa qualquer espaço para o terrorismo.
Onde está o líder dos EUA pronto a dizer: "Basta de histeria, chega de paranóia"?. Mesmo em face de futuro ataques terroristas, cuja probabilidade não pode ser negada, vamos mostrar algum senso. Sejamos fieis às nossas tradições.
25/Março/2007
[*] Ex-conselheiro de segurança nacional do presidente James Carter, autor de Second Chance: Three Presidents and the Crisis of American Superpower .
O dano que estas três palavras fizeram – um golpe auto-infligido clássico – é infinitamente maior do que os sonhos mais loucos mantidos pelos fanáticos perpetradores dos ataques do 11/Set quando conspiravam contra nós em distantes cavernas afegãs. A própria frase é sem significado. Ela não define nem um contexto geográfico nem os nossos presumidos inimigos. O terrorismo não é um inimigo e sim uma técnica de guerra – a intimidação política através da morte de não combatentes desarmados.
Mas o pequeno segredo aqui pode ser que a imprecisão da frase fosse deliberadamente (ou instintivamente) calculada pelos seus promotores. A referência constante a uma "guerra ao terror" cumpriu um objectivo maior: Estimulou a emergência de uma cultura do medo. O medo obscurece a razão, intensifica as emoções e torna mais fácil para políticos demagogos mobilizar o público para as políticas que quiserem aplicar. A guerra escolhida no Iraque nunca poderia ter ganho o apoio do Congresso sem a ligação psicológica entre o choque do 11/Set e a postulada existência de armas iraquianas de destruição maciça. O apoio ao presidente Bush nas eleições de 2004 também foi mobilizado em parte graças à noção de que "uma nação em guerra" não muda o seu comandante em chefe no decorrer da mesma. O senso de um perigo difuso mas impreciso foi então canalizado numa direcção politicamente conveniente pelo apelo mobilizador do "estamos em guerra".
Para justificar a "guerra ao terror", a administração recentemente carpinteirou uma falsa narrativa histórica que poderia mesmo tornar-se uma profecia auto-cumprida. Ao clamar que esta guerra é semelhante a lutas americanas anteriores contra o nazismo e o estalinismo (ignorando o facto de que tanto a Alemanha nazi como a Rússia soviética era potências militares de primeira classe, estatuto que a al-Qaeda não alcançou nem pode alcançar), a administração podia estar a preparar o processo para a guerra com o Irão. Tal guerra mergulharia a América num prolongado conflito abarcando o Iraque, o Irão, o Afeganistão e talvez também o Paquistão.
A cultura do medo é como um génio que foi libertado da sua garrafa. Ela adquire uma vida por si própria – e pode tornar-se desmoralizadora. A América de hoje não é a nação auto-confiantes e determinada que respondeu a Pearl Harbor, nem é a América que ouviu do seu líder, em outro momento de crise, as poderosas palavras "a única coisa que temos a temer é o próprio medo", nem é a tranquila América que travou a Guerra Fria com serena persistência apesar de saber que uma guerra real poderia ser iniciada abruptamente dentro de minutos e conduziria à morte de 100 milhões de americanos em apenas umas poucas horas. Nós agora estamos divididos, incertos e potencialmente muito susceptíveis ao pânico no caso de outro acto terrorista nos próprios Estados Unidos.
Isto é o resultado de cinco anos de quase contínua lavagem cerebral no país com o assunto do terror, bastante diferente das reacções mais tranquilas de vários outros países (Grã-Bretanha, Espanha, Itália, Alemanha, Japão, para mencionar apenas alguns) que também sofreram penosos actos terroristas. Na sua mais recente justificativa para a sua guerra no Iraque, o presidente Bush clama mesmo, de forma absurda, que tem de continuar a travá-la a fim de que a al-Qaeda não atravesse o Atlântico para lançar uma guerra de terror aqui nos Estados Unidos.
Tais mercadores do medo, reforçados por empresários de segurança, pelos mass media e pela indústria do entretenimento geram o seu ímpeto. Os empresários do terror, habitualmente descritos como peritos em terrorismo, estão necessariamente empenhados numa competição para justificarem a sua existência. Portanto, a sua tarefa é convencer o público que enfrenta novas ameaças. Isto proporciona uma recompensa na apresentação de cenários críveis de actos de violência cada vez mais horrendos, por vezes até mesmo com os planos para a sua execução.
Que a América tornou-se insegura e mais paranóica é dificilmente debatível. Um estudo recente relatou em 2003 o Congresso identificou 160 sítios como alvos nacionais potencialmente importantes para pretensos terroristas. Com os lobistas a pressionarem, no fim daquele ano a lista havia crescido para 1849; no fim de 2004, para 28.360; em 2005, para 77.769. A base de dados nacional de possíveis objectivos tem agora uns 300.000 registo, incluindo a Sears Tower em Chicago e um Festival da Maçã e do Porco (Apple and Pork Festival) em Illinois.
Na semana passada, aqui em Washington, no meu caminho da visita a um gabinete jornalístico, tive de passar através de um dos absurdos "controles de segurança" que proliferaram em quase todos os edifícios privados de escritório nesta capital – e na cidade Nova York. Um guarda uniformizado exigiu-me que preenchesse um formulário, mostrasse o documento de identificação e neste caso explicasse por escrito a finalidade da minha visita. Será que um terrorista visitante indicaria por escrito que a finalidade seria "explodir o edifício"? Será que o guarda seria capaz de deter um auto-confessado bombista suicida? Para tornar as coisas mais absurdas, grandes lojas de departamentos, com suas multidões de compradores, não têm quaisquer procedimentos comparáveis. Nem tão pouco salas de concertos ou de cinema. Mas tais procedimentos de "segurança" tornaram-se rotina, desperdiçando centenas de milhões de dólares e contribuindo ainda para uma mentalidade de cerco.
O governo tem estimulado a paranóia a todos os níveis. Considere, por exemplo, os avisos electrónicos nas rodovias inter-estaduais a urgirem os motoristas a "Denunciarem actividade suspeita" (condutores com turbantes?). Alguns mass media fizeram a sua própria contribuição. Os canais por cabo e alguns media impressos descobriram que cenários de horror atraem audiências, enquanto "peritos" em terror como "consultores" proporcionam autenticidade às visões apocalípticas dadas a comer ao público americano. Portanto, a proliferação de programas com "terroristas" barbudos como os vilões principais. O seu efeito geral é reforçar o sentimento do perigo desconhecido mas à espreita que se diz estar a ameaçar as vidas de todos os americanos.
A indústria do entretenimento também saltou para a cena. Assim, as séries de TV e os filmes nos quais os maus caracteres têm reconhecíveis feições árabes, por vezes destacadas por gestos religiosos, que exploram a ansiedade do público e estimulam a islamofobia. Os esterótipos faciais árabes, particularmente nas caricaturas de jornais, tem por vezes recordado tristemente campanhas nazis de anti-semitismo. Ultimamente, mesmo algumas organizações de estudantes envolveram-se em tal propagação, aparentemente esquecidas das ameaçadoras conexões entre a estimulação de ódios raciais e religiosos e o desencadear dos crimes sem precedentes do Holocausto.
A atmosfera gerada pela "guerra ao terror" encorajou a perseguição legal e política de árabe-americanos (geralmente americanos leais) por condutas que não têm sido apenas deles. Um caso de destaque é a perseguição relatada do Council on American-Islamic Relations (CAIR) por sua tentativa de emular, não com muito êxito, o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Alguns deputados do Partido Republicano recentemente descreveram os membros do CAIR como "apologistas do terror" aos quais não deveria ser permitida a utilização da sala de reuniões do Capitólio para um painel de discussão.
A discriminação social, em relação por exemplo aos passageiros aéreos muçulmanos, também tem sido um sub-produto não pretendido desta campanha. Não surpreendentemente, o ânimo em relação aos Estados Unidos, mesmo entre muçulmanos não particularmente preocupados com o Médio Oriente, intensificou-se, ao passo que a reputação da América como líder na promoção de relações inter-raciais e inter-religiosas construtivas sofreu rudemente.
O registo é ainda mais perturbador na área geral dos direitos civis. A cultura do medo alimentou a intolerância, suspeição de estrangeiros e a adopção de procedimentos legais que minam noções fundamentais de justiça. A noção de inocente até que se prove culpado foi diluída se não desfeita, com alguns – mesmo cidadãos americanos – encarcerados por longos períodos de tempo sem efectivo e imediato acesso ao devido processo. Não há qualquer evidência conhecida de que tais excessos tenham impedido actos significativos de terrorismo, e de que as convicções de supostos terroristas de qualquer espécie tenham sido reduzidas. Algum dia os americanos ficarão envergonhados com estes registos, tal como agora ficam em relação a exemplos anteriores da história dos EUA em que o pânico de muitos levou à intolerância contra poucos.
Enquanto isso, a "guerra ao terror" prejudicou gravemente os Estados Unidos no plano internacional. Para os muçulmanos, a semelhança entre o rude tratamento de civis iraquianos pelos militares americanos e do palestinos pelos israelenses promoveu um sentimento generalizado de hostilidade para com os Estados Unidos em geral. Não é a "guerra ao terror" que encoleriza os muçulmanos que assistem os noticiários na televisão, é a vitimização de civis árabes. E o ressentimento não é limitado a muçulmanos. Um recente inquérito da BB junto a 28 mil pessoas em 27 países que examinou avaliações dos inquiridos quanto ao papel dos estados nos assuntos internacionais resultou em que Israel, Irão e Estados Unidos foram classificados (nesta ordem) como os estados com "a maior influência negativa no mundo". Aliás, para alguns este é o novo "eixo do mal"!
Os acontecimentos do 11/Set poderiam ter resultado numa solidariedade verdadeiramente global contra o extremismo e o terrorismo. Uma aliança global de moderados, incluindo muçulmanos, empenhados numa campanha deliberada tanto para extirpar redes terroristas específicas como para terminar conflitos políticos que geram terrorismo. Isto teria sido mais produtivos do que uma "guerra ao terror" contra o "islamo-fascismo" proclamada de forma demagógica e em grande parte solitária. Só uma América confiantemente determinada e razoável pode promover a segurança internacional genuína que não deixa qualquer espaço para o terrorismo.
Onde está o líder dos EUA pronto a dizer: "Basta de histeria, chega de paranóia"?. Mesmo em face de futuro ataques terroristas, cuja probabilidade não pode ser negada, vamos mostrar algum senso. Sejamos fieis às nossas tradições.
http://resistir.info/eua/aterrorizados.html
O regime Obama inventou uma "conspiração do terror" em defesa da polícia de estado
Democracias representativas e ditaduras autocráticas respondem a crises internas profundas de modos muito diferentes: as primeiras tentam justificar-se junto aos cidadãos, explicando causas, consequências e alternativas; as ditaduras tentam aterrorizar, intimidar e distrair o público acenando com falsas ameaças externas, a fim de perpetuar e justificar a dominação por métodos de estado policial e evitar enfrentar as crises auto-infligidas.
Tal falsificação é evidente no presente anúncio do regime de Obama de uma iminente "ameaça terrorista" global [1] diante das múltiplas crises, fracassos políticos e derrotas por todo o Médio Oriente, África do Norte e Sudoeste da Ásia.
A tagarelice da Internet evoca uma conspiração global e ressuscita a guerra global ao terror
Toda a ofensiva de propaganda da conspiração do terror, lançada pelo regime Obama e disseminada pelos mass media, basea-se nas fontes mais frágeis que se possam imaginar e nos pretextos mais risíveis. Segundo fontes da Casa Branca, a National Security Agency, a CIA e outras agências de espionagem afirmaram ter monitorado e interceptado ameaças não especificadas da Al-Qaeda, conversações de duas figuras da Al Qaeda incluindo Ayman al-Zawahiri [2] .
Ainda pior: a alegação do regime Obama de uma ameaça global da Al-Qaeda, obrigando ao encerramento de 19 embaixadas e consulados e um alerta mundial a viajantes, choca-se claramente com afirmações públicas reiteradas ao longo dos últimos cinco anos de que Washington desferiu "golpes mortais" à organização terrorista que minou a sua capacidade operacional [3] com os "êxitos militares" dos EUA no Afeganistão e no Iraque, o assassinato de Bin Laden, os ataques de drones no Iémen, Paquistão, Somália e a invasão da Líbia apoiada pelos EUA. Ou o regime Obama estava a mentir no passado ou o seu presente alerta de terror é uma invenção. Se, como afirmam Obama e a NSA, a Al Qaeda reemergiu como uma ameaça terrorista global, então doze anos de guerra no Afeganistão e onze anos de guerra no Iraque, o gasto de US$1,46 milhão de milhões, a perde de mais de sete mil soldados estado-unidenses [4] e a mutilação física e psicológica de mais de uma centena de milhar de combatentes dos EUA foi um desastre total e absoluto e a assim chamada guerra ao terror é um fracasso.
A alegação de uma ameaça global de terror, baseada na vigilância da NSA de dois líderes da Al Qaeda com base no Iémen, é tão frívola quanto implausível. Todos os dias por todo o ciberespaço um ou outro indivíduo ou grupo terrorista islâmico discute tramas de terror, fantasias e planos sem grande consequência.
O regime Obama falhou em explicar porque, dentre milhares de "conversações" diárias na Internet, esta particular, neste momento particular, representa uma viável operação terrorista em curso. Não é preciso um milhão de espiões para recolher uma tagarelice jihadista acerca de "atacar Satã".
Durante mais de uma década, operacionais da Al Qaeda no Iémen têm estado empenhados numa guerra por procuração com regimes apoiados por Washington e durante o mesmo período de tempo o regime Obama tem estado empenhado em missões assassínio por drones e Forças Especiais contra militante iemenitas e figuras da oposição [5] . Por outras palavras, o regime Obama engrandeceu eventos que são habituais, relacionados com um conflito em andamento conhecido do público, numa nova ameaça terrorista global tal como revelado pelos seus espiões mestres devido à sua muita apregoada proeza de espionagem!
É mais do que óbvio que o regime Obama está empenhado numa falsificação global concebida para distrair a opinião pública mundial e, em particular, a maioria dos cidadãos dos EUA, da espionagem da polícia de estado e das violações de liberdades constitucionais básicas.
Ao acenar com uma falsa "ameaça terrorista" e a sua detecção pela NSA, Obama espera relegitimar o seu desacreditado aparelho de polícia estatal.
Ainda mais importante: ao levantar o espectro de uma ameaça terrorista global, o regime Obama procura encobrir as sua políticas mais vergonhosas, os desprezíveis "julgamentos espectáculo" e as duras condições de aprisionamento de denunciantes do governo, assim como derrotas e fracassos diplomáticos e militares que têm abalado o império no presente período.
O cronograma da falsificação da ameaça do terror global
Nos últimos anos o público do EUA cansou-se do custo e da natureza inconclusiva da "guerra global ao terror" (GWOT, na sigla em inglês). Inquéritos à opinião pública apoiam a retirada das tropas de guerras distantes assim como programas sociais internos ao invés de gastos militares e novas invasões. Mas o regime Obama, ajudado e em conivência com a configuração de poder pró Israel, dentro e fora do governo, empenha-se numa busca constante de políticas de guerra que miram o Irão, Síria, Líbano e qualquer outro país muçulmano que se oponha a que Israel apague do mapa a Palestina Árabe. Os "brilhantes" estrategas e conselheiros pró guerra no regime Obama têm seguido políticas militares e diplomáticas que levaram a desastres políticos, monstruosas violações de direitos humanos e o estripamento de protecções constitucionais garantidas aos cidadãos dos EUA. A fim de continuar na senda de repetidas políticas fracassadas, foi erguido um gargantuesco estado policial para espionar, controlar e reprimir cidadãos dos EUA e de outros países, tanto aliados como adversários.
A falsificada "ameaça do terror" ocorre num momento e como resposta ao aprofundamento da crise internacional e do impasse político enfrentado pelo regime Obama – um momento de profundo desencanto entre a opinião pública interna e externa e de crescente pressão dos que dão prioridade aos interesses de Israel ( Israel Firsters) no sentido do avanço da agenda militar.
A pancada mais devastadora para a construção do estado policial são os documentos tornados públicos pelo contratado da NSA Edward Snowden, os quais revelaram a vasta rede à escala mundial da espionagem da NSA com violação das liberdades constitucionais dos EUA e da soberania de países. As revelações desacreditaram o regime Obama, provocaram conflitos dentro e entre aliados, e fortaleceram a posição de adversários e críticos do Império estado-unidense.
Importantes organizações regionais, como o MERCOSUL na América Latina, atacaram o "ciber-imperialismo"; os países da UE questionaram a noção de "cooperação de inteligência". Mesmo dúzias de pessoas do Congresso dos EUA apelaram à reforma e a cortes no financiamento da NSA.
As "ameaças do terror" são sincronizadas por Obama para neutralizar as revelações de Snowden e justificar a agência de espionagem e suas vastas operações.
O "julgamento espectáculo" de Bradley Manning, no qual um soldado é torturado, muitas vezes com nudez forçada, em confinamento solitário durante quase um ano, aprisionado durante três anos antes do seu julgamento e publicamente pré-julgado pelo presidente Obama, por numerosos legisladores e pelos mass media (eliminando qualquer simulacro de "correcção"), por revelar crimes de guerra dos EUA contra civis iraquianos e afegãos, provocou protestos em massa por todo o mundo. A "ameaça do terror" de Obama é exibida para coincidir com a condenação pré determinada de Manning nesta farsa judicial desacreditada e para reforçar o argumento de que a sua revelação de brutais crimes de guerra dos EUA "serviu o inimigo" (ao invés de servir o público americano, o qual Manning reiteradamente disse ter o direito de conhecer as atrocidades cometidas em seu nome). Com o relançamento da "guerra ao terror" e a intimidação do público estado-unidense, o regime Obama está a tentar desacreditar heróicas revelações de Bradley Manning de crimes de guerra documentados no Iraque e no Afeganistão centrando-se em nebulosas ameaças de terror da Al Qaeda na Internet!
Na arena política internacional, Obama sofreu uma série de repetidas derrotas políticas e diplomáticas com implicações de extremo alcance para o seu projecto fanático de construção do império. A invasão mercenária apoiada por Obama e executada por islamistas da Al Qaeda da nação soberana da Síria sofreu uma série de derrotas militares e jihadistas, "combatentes da liberdade" por procuração, foram denunciados pelos mais prestigiosos grupos de direitos humanos devido aos seus massacres e limpezas étnicas de populações civis na Síria (especialmente cristãos, curdos, alevis e sírios laicos). A "aventura" síria de Obama saiu pela culatra e está claramente a desencadear uma nova geração de terroristas islâmicos, armados pelos Estados do Golfo – especialmente a Arábia Saudita e o Qatar, treinados pelos Serviços Especiais turcos e da NATO e agora disponível para "missões" terroristas globais contra estados clientes dos EUA, a Europa e os próprios EUA.
Por sua vez, a derrocada síria tem tido um grande impacto sobre a Turquia, aliada NATO de Obama, onde protestos em massa estão a desafiar o apoio militar do primeiro-ministro Erdogan a mercenários islamistas, que têm bases ao longo da fronteira turca com a Síria. A repressão selvagem de Erdogan a centenas de milhares de manifestantes pacíficos, a prisão arbitrária de milhares de activistas pró democracia e os seus próprios "julgamentos espectáculo" de centenas de jornalistas, oficiais militares, estudantes, intelectuais e sindicalistas certamente desacreditaram o principal aliado "islamista democrático" de Obama e minaram a tentativa de Washington de ancorar sua dominância a uma aliança triangular Israel, Turquia e monarquias do Golfo.
Novo descrédito da política externa de Obama de cooptar "regimes eleitorais" islamistas verificou-se no Egipto e está pendente na Tunísia. A política pós Mubarak de Obama procurava um arranjo de "partilha de poder" entre o democraticamente eleito presidente Morsi da Irmandade Muçulmana, os militares da era Mubarak e políticos neoliberais, como Mohamed El Baradei. Ao invés disso, o general Sistani tomou o poder à força através do exército, derrubando e aprisionando o civil presidente Morsi. O exército egípcio sob Sistani tem massacrado pacíficos muçulmanos pró democracia e expurgado o parlamento, a imprensa e vozes independentes.
Obrigado a escolher entre a ditadura militar constituída pelo homem do confiança do antigo ditador Mubarak e a Fraternidade Muçulmana com base de massa, o secretário de Estado John Kerry apoiou a tomada de poder militar como uma "transição para a democracia" (recusando-se firmemente a utilizar a expressão "golpe de estado"). Isto abriu uma porta ampla para um período de repressão em massa e resistência no Egipto e enfraqueceu gravemente uma ligação chave no "eixo de reacção" no Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto).
A incapacidade de Obama para tratar das novas aberturas de paz do presidente Rouhani, recentemente eleito no Irão, foi evidente na capitulação da administração a um voto do Congresso (420 – 20) em favor de novas e mais severas sanções concebidas, segundo os autores AIPAC da lei, para "estrangular a economia petrolífera iraniana". A oferta do secretário de Estado Kerry de "negociar" com o Irão, sob sanções económicas e um bloqueio imposto pelos EUA, foi vista em Teerão, e pela maior parte dos observadores independente, como um gesto teatral vazio, de pouca consequência. O fracasso de Obama em restringir o controle total israelense-sionista sobre a política externa dos EUA em relação ao Irão e em concluir um acordo assegurando um Irão livre de armas nucleares, assegura que a região continuará a ser um barril de pólvora político e militar.
Nomeações por Obama de eminentes fanáticos sionistas para posições políticos estratégicas em relação ao Médio Oriente asseguram que os EUA e o regime Obama não tem opções para o Irão, Palestina, Síria ou Líbano – excepto seguir aquelas ditadas por Tel Aviv directamente aos seus agentes estado-unidenses, os 52 presidentes das Major American Jewish Organizations, os quais, juntamente com seus colaboradores sionistas internos, são co-autores do roteiro político do Congresso dos EUA e da Casa Branca.
As negociações da paz israelense-palestina do regime Obama são encaradas pela maior parte dos observadores como os esforços mais distorcidos e bizarros até à data naquela farsa cruel. Washington comprou os líderes da "Autoridade" Palestina com subornos de muitos milhões de dólares e abriu caminho para a acelerada tomada de terra de Israel na Cisjordânia ocupada e para construção de colonatos "só para judeus", bem como a expulsão em massa de 40 mil beduínos dentro do próprio Israel.
Para assegurar o resultado desejado – um fiasco total – Obama nomeou como seu "mediador" um dos mais fanáticos radicais pró Israel de Washington, o tri-nacional Martin Indyk, conhecido em círculos diplomáticos como "advogado de Israel" (e o primeiro embaixador dos EUA a ser despojado de permissão de segurança (security clearance) devido ao uso abusivo de documentos).
A ruptura das negociações já está prevista. Obama, capturado na teia das suas próprias antigas alianças e lealdades reaccionárias e obcecado com soluções militares, desenvolveu um talento especial para se empenhar em prolongadas guerras perdedoras, multiplicar inimigos e alienar aliados.
Conclusão
O resultado de prolongadas guerras impopulares de agressão tem sido a construção maciça de uma monstruosa polícia interna de estado, espionando generalizadamente todo o mundo e o cometimento de chocantes violações da Constituição dos EUA. Isto, por sua vez, tem levado a "conspirações de terror" grosseiramente cozinhadas a fim de encobrir os repetidos fracassos de política externa, assim como difamar e perseguir corajosos denunciantes e ameaçar outros patriotas americanos decentes.
A recente declaração de mais uma "conspiração de terror", a qual serviu para justificar as actividades ilegais das agências de espionagem dos EUA e "unificar o Congresso", provocou uma histeria que perdurou menos de uma semana. A seguir, começam a pingar informações mesmo nos obedientes mass media dos EUA, desacreditando as bases da alegada conspiração global de terror. Segundo uma reportagem, a muito propagandeada "conspiração Al Qaeda" verificou-se ser um esforço falhado para explodir um terminal petrolífero e um oleoduto no Iémen. Segundo observadores regionais: "Quase toda semana são atacados oleodutos no Iémen" [6] . E assim um ataque jihadista sem êxito contra um oleoduto numa parte marginal do mais pobre estado árabe transmutou-se no anúncio ofegante do presidente Obama da dita ameaça terrorista global!
Uma pilhéria ultrajante foi encenada pelo presidente, sua administração e seus seguidores no Congresso. Mas durante esta grande "pilhéria" orquestrada, Obama desencadeou uma dúzia de ataques de drones assassinos contra alvos humanos da sua própria escolha, matando dúzias de cidadãos iemenitas, incluindo muitos transeuntes inocentes.
O que é ainda menos jocoso é que Obama, o Mestre do Engano, simplesmente avança nesse rumo. Suas "reformas" propostas dizem-se destinadas a restringir actividades da NSA; mas ele insiste em continuar a "colecta em massa" (centenas de milhões) de comunicações telefónicas de cidadãos dos EUA (FT 8/12/13 p2). Ele mantém intacto o aparelho de espionagem da polícia estatal, mantém seus decisores políticos pró Israel em posições estratégicas, reafirma sua política de confrontação com o Irão e escala tensões com a Rússia, China e Venezuela. Obama abraça uma nova onda de ditaduras militares, a começar, mas não a terminar, pela do Egipto.
Face ao apoio interno e externo decrescente e ao declínio da credibilidade das suas grosseiras ameaças de "terror", pode-se perguntar se o sempre ativo aparelho clandestino realmente encenaria na vida real o seu próprio sangrento ato de terror, um bombardeamento "false flag" apoiado por um estado secreto, para convencer um público cada vez mais desencantado e céptico. Isto seria um acto desesperado para o Estado, mas estes são tempos desesperados que confrontam uma administração fracassada, a perseguir guerras perdidas nas quais os Mestres da Derrota só podem confiar nos Mestres do Engano.
O regime Obama está infestado com a "política tóxica do terrorismo" e este vício tem-no conduzido a perseguir, torturar e aprisionar aqueles que buscam a verdade, denunciantes [de crimes] e verdadeiros patriotas que se esforçam (e continuarão a se esforçar) por acordar o gigante adormecido, na esperança de que o povo da América se levante outra vez.
Tal falsificação é evidente no presente anúncio do regime de Obama de uma iminente "ameaça terrorista" global [1] diante das múltiplas crises, fracassos políticos e derrotas por todo o Médio Oriente, África do Norte e Sudoeste da Ásia.
A tagarelice da Internet evoca uma conspiração global e ressuscita a guerra global ao terror
Toda a ofensiva de propaganda da conspiração do terror, lançada pelo regime Obama e disseminada pelos mass media, basea-se nas fontes mais frágeis que se possam imaginar e nos pretextos mais risíveis. Segundo fontes da Casa Branca, a National Security Agency, a CIA e outras agências de espionagem afirmaram ter monitorado e interceptado ameaças não especificadas da Al-Qaeda, conversações de duas figuras da Al Qaeda incluindo Ayman al-Zawahiri [2] .
Ainda pior: a alegação do regime Obama de uma ameaça global da Al-Qaeda, obrigando ao encerramento de 19 embaixadas e consulados e um alerta mundial a viajantes, choca-se claramente com afirmações públicas reiteradas ao longo dos últimos cinco anos de que Washington desferiu "golpes mortais" à organização terrorista que minou a sua capacidade operacional [3] com os "êxitos militares" dos EUA no Afeganistão e no Iraque, o assassinato de Bin Laden, os ataques de drones no Iémen, Paquistão, Somália e a invasão da Líbia apoiada pelos EUA. Ou o regime Obama estava a mentir no passado ou o seu presente alerta de terror é uma invenção. Se, como afirmam Obama e a NSA, a Al Qaeda reemergiu como uma ameaça terrorista global, então doze anos de guerra no Afeganistão e onze anos de guerra no Iraque, o gasto de US$1,46 milhão de milhões, a perde de mais de sete mil soldados estado-unidenses [4] e a mutilação física e psicológica de mais de uma centena de milhar de combatentes dos EUA foi um desastre total e absoluto e a assim chamada guerra ao terror é um fracasso.
A alegação de uma ameaça global de terror, baseada na vigilância da NSA de dois líderes da Al Qaeda com base no Iémen, é tão frívola quanto implausível. Todos os dias por todo o ciberespaço um ou outro indivíduo ou grupo terrorista islâmico discute tramas de terror, fantasias e planos sem grande consequência.
O regime Obama falhou em explicar porque, dentre milhares de "conversações" diárias na Internet, esta particular, neste momento particular, representa uma viável operação terrorista em curso. Não é preciso um milhão de espiões para recolher uma tagarelice jihadista acerca de "atacar Satã".
Durante mais de uma década, operacionais da Al Qaeda no Iémen têm estado empenhados numa guerra por procuração com regimes apoiados por Washington e durante o mesmo período de tempo o regime Obama tem estado empenhado em missões assassínio por drones e Forças Especiais contra militante iemenitas e figuras da oposição [5] . Por outras palavras, o regime Obama engrandeceu eventos que são habituais, relacionados com um conflito em andamento conhecido do público, numa nova ameaça terrorista global tal como revelado pelos seus espiões mestres devido à sua muita apregoada proeza de espionagem!
É mais do que óbvio que o regime Obama está empenhado numa falsificação global concebida para distrair a opinião pública mundial e, em particular, a maioria dos cidadãos dos EUA, da espionagem da polícia de estado e das violações de liberdades constitucionais básicas.
Ao acenar com uma falsa "ameaça terrorista" e a sua detecção pela NSA, Obama espera relegitimar o seu desacreditado aparelho de polícia estatal.
Ainda mais importante: ao levantar o espectro de uma ameaça terrorista global, o regime Obama procura encobrir as sua políticas mais vergonhosas, os desprezíveis "julgamentos espectáculo" e as duras condições de aprisionamento de denunciantes do governo, assim como derrotas e fracassos diplomáticos e militares que têm abalado o império no presente período.
O cronograma da falsificação da ameaça do terror global
Nos últimos anos o público do EUA cansou-se do custo e da natureza inconclusiva da "guerra global ao terror" (GWOT, na sigla em inglês). Inquéritos à opinião pública apoiam a retirada das tropas de guerras distantes assim como programas sociais internos ao invés de gastos militares e novas invasões. Mas o regime Obama, ajudado e em conivência com a configuração de poder pró Israel, dentro e fora do governo, empenha-se numa busca constante de políticas de guerra que miram o Irão, Síria, Líbano e qualquer outro país muçulmano que se oponha a que Israel apague do mapa a Palestina Árabe. Os "brilhantes" estrategas e conselheiros pró guerra no regime Obama têm seguido políticas militares e diplomáticas que levaram a desastres políticos, monstruosas violações de direitos humanos e o estripamento de protecções constitucionais garantidas aos cidadãos dos EUA. A fim de continuar na senda de repetidas políticas fracassadas, foi erguido um gargantuesco estado policial para espionar, controlar e reprimir cidadãos dos EUA e de outros países, tanto aliados como adversários.
A falsificada "ameaça do terror" ocorre num momento e como resposta ao aprofundamento da crise internacional e do impasse político enfrentado pelo regime Obama – um momento de profundo desencanto entre a opinião pública interna e externa e de crescente pressão dos que dão prioridade aos interesses de Israel ( Israel Firsters) no sentido do avanço da agenda militar.
A pancada mais devastadora para a construção do estado policial são os documentos tornados públicos pelo contratado da NSA Edward Snowden, os quais revelaram a vasta rede à escala mundial da espionagem da NSA com violação das liberdades constitucionais dos EUA e da soberania de países. As revelações desacreditaram o regime Obama, provocaram conflitos dentro e entre aliados, e fortaleceram a posição de adversários e críticos do Império estado-unidense.
Importantes organizações regionais, como o MERCOSUL na América Latina, atacaram o "ciber-imperialismo"; os países da UE questionaram a noção de "cooperação de inteligência". Mesmo dúzias de pessoas do Congresso dos EUA apelaram à reforma e a cortes no financiamento da NSA.
As "ameaças do terror" são sincronizadas por Obama para neutralizar as revelações de Snowden e justificar a agência de espionagem e suas vastas operações.
O "julgamento espectáculo" de Bradley Manning, no qual um soldado é torturado, muitas vezes com nudez forçada, em confinamento solitário durante quase um ano, aprisionado durante três anos antes do seu julgamento e publicamente pré-julgado pelo presidente Obama, por numerosos legisladores e pelos mass media (eliminando qualquer simulacro de "correcção"), por revelar crimes de guerra dos EUA contra civis iraquianos e afegãos, provocou protestos em massa por todo o mundo. A "ameaça do terror" de Obama é exibida para coincidir com a condenação pré determinada de Manning nesta farsa judicial desacreditada e para reforçar o argumento de que a sua revelação de brutais crimes de guerra dos EUA "serviu o inimigo" (ao invés de servir o público americano, o qual Manning reiteradamente disse ter o direito de conhecer as atrocidades cometidas em seu nome). Com o relançamento da "guerra ao terror" e a intimidação do público estado-unidense, o regime Obama está a tentar desacreditar heróicas revelações de Bradley Manning de crimes de guerra documentados no Iraque e no Afeganistão centrando-se em nebulosas ameaças de terror da Al Qaeda na Internet!
Na arena política internacional, Obama sofreu uma série de repetidas derrotas políticas e diplomáticas com implicações de extremo alcance para o seu projecto fanático de construção do império. A invasão mercenária apoiada por Obama e executada por islamistas da Al Qaeda da nação soberana da Síria sofreu uma série de derrotas militares e jihadistas, "combatentes da liberdade" por procuração, foram denunciados pelos mais prestigiosos grupos de direitos humanos devido aos seus massacres e limpezas étnicas de populações civis na Síria (especialmente cristãos, curdos, alevis e sírios laicos). A "aventura" síria de Obama saiu pela culatra e está claramente a desencadear uma nova geração de terroristas islâmicos, armados pelos Estados do Golfo – especialmente a Arábia Saudita e o Qatar, treinados pelos Serviços Especiais turcos e da NATO e agora disponível para "missões" terroristas globais contra estados clientes dos EUA, a Europa e os próprios EUA.
Por sua vez, a derrocada síria tem tido um grande impacto sobre a Turquia, aliada NATO de Obama, onde protestos em massa estão a desafiar o apoio militar do primeiro-ministro Erdogan a mercenários islamistas, que têm bases ao longo da fronteira turca com a Síria. A repressão selvagem de Erdogan a centenas de milhares de manifestantes pacíficos, a prisão arbitrária de milhares de activistas pró democracia e os seus próprios "julgamentos espectáculo" de centenas de jornalistas, oficiais militares, estudantes, intelectuais e sindicalistas certamente desacreditaram o principal aliado "islamista democrático" de Obama e minaram a tentativa de Washington de ancorar sua dominância a uma aliança triangular Israel, Turquia e monarquias do Golfo.
Novo descrédito da política externa de Obama de cooptar "regimes eleitorais" islamistas verificou-se no Egipto e está pendente na Tunísia. A política pós Mubarak de Obama procurava um arranjo de "partilha de poder" entre o democraticamente eleito presidente Morsi da Irmandade Muçulmana, os militares da era Mubarak e políticos neoliberais, como Mohamed El Baradei. Ao invés disso, o general Sistani tomou o poder à força através do exército, derrubando e aprisionando o civil presidente Morsi. O exército egípcio sob Sistani tem massacrado pacíficos muçulmanos pró democracia e expurgado o parlamento, a imprensa e vozes independentes.
Obrigado a escolher entre a ditadura militar constituída pelo homem do confiança do antigo ditador Mubarak e a Fraternidade Muçulmana com base de massa, o secretário de Estado John Kerry apoiou a tomada de poder militar como uma "transição para a democracia" (recusando-se firmemente a utilizar a expressão "golpe de estado"). Isto abriu uma porta ampla para um período de repressão em massa e resistência no Egipto e enfraqueceu gravemente uma ligação chave no "eixo de reacção" no Norte de África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto).
A incapacidade de Obama para tratar das novas aberturas de paz do presidente Rouhani, recentemente eleito no Irão, foi evidente na capitulação da administração a um voto do Congresso (420 – 20) em favor de novas e mais severas sanções concebidas, segundo os autores AIPAC da lei, para "estrangular a economia petrolífera iraniana". A oferta do secretário de Estado Kerry de "negociar" com o Irão, sob sanções económicas e um bloqueio imposto pelos EUA, foi vista em Teerão, e pela maior parte dos observadores independente, como um gesto teatral vazio, de pouca consequência. O fracasso de Obama em restringir o controle total israelense-sionista sobre a política externa dos EUA em relação ao Irão e em concluir um acordo assegurando um Irão livre de armas nucleares, assegura que a região continuará a ser um barril de pólvora político e militar.
Nomeações por Obama de eminentes fanáticos sionistas para posições políticos estratégicas em relação ao Médio Oriente asseguram que os EUA e o regime Obama não tem opções para o Irão, Palestina, Síria ou Líbano – excepto seguir aquelas ditadas por Tel Aviv directamente aos seus agentes estado-unidenses, os 52 presidentes das Major American Jewish Organizations, os quais, juntamente com seus colaboradores sionistas internos, são co-autores do roteiro político do Congresso dos EUA e da Casa Branca.
As negociações da paz israelense-palestina do regime Obama são encaradas pela maior parte dos observadores como os esforços mais distorcidos e bizarros até à data naquela farsa cruel. Washington comprou os líderes da "Autoridade" Palestina com subornos de muitos milhões de dólares e abriu caminho para a acelerada tomada de terra de Israel na Cisjordânia ocupada e para construção de colonatos "só para judeus", bem como a expulsão em massa de 40 mil beduínos dentro do próprio Israel.
Para assegurar o resultado desejado – um fiasco total – Obama nomeou como seu "mediador" um dos mais fanáticos radicais pró Israel de Washington, o tri-nacional Martin Indyk, conhecido em círculos diplomáticos como "advogado de Israel" (e o primeiro embaixador dos EUA a ser despojado de permissão de segurança (security clearance) devido ao uso abusivo de documentos).
A ruptura das negociações já está prevista. Obama, capturado na teia das suas próprias antigas alianças e lealdades reaccionárias e obcecado com soluções militares, desenvolveu um talento especial para se empenhar em prolongadas guerras perdedoras, multiplicar inimigos e alienar aliados.
Conclusão
O resultado de prolongadas guerras impopulares de agressão tem sido a construção maciça de uma monstruosa polícia interna de estado, espionando generalizadamente todo o mundo e o cometimento de chocantes violações da Constituição dos EUA. Isto, por sua vez, tem levado a "conspirações de terror" grosseiramente cozinhadas a fim de encobrir os repetidos fracassos de política externa, assim como difamar e perseguir corajosos denunciantes e ameaçar outros patriotas americanos decentes.
A recente declaração de mais uma "conspiração de terror", a qual serviu para justificar as actividades ilegais das agências de espionagem dos EUA e "unificar o Congresso", provocou uma histeria que perdurou menos de uma semana. A seguir, começam a pingar informações mesmo nos obedientes mass media dos EUA, desacreditando as bases da alegada conspiração global de terror. Segundo uma reportagem, a muito propagandeada "conspiração Al Qaeda" verificou-se ser um esforço falhado para explodir um terminal petrolífero e um oleoduto no Iémen. Segundo observadores regionais: "Quase toda semana são atacados oleodutos no Iémen" [6] . E assim um ataque jihadista sem êxito contra um oleoduto numa parte marginal do mais pobre estado árabe transmutou-se no anúncio ofegante do presidente Obama da dita ameaça terrorista global!
Uma pilhéria ultrajante foi encenada pelo presidente, sua administração e seus seguidores no Congresso. Mas durante esta grande "pilhéria" orquestrada, Obama desencadeou uma dúzia de ataques de drones assassinos contra alvos humanos da sua própria escolha, matando dúzias de cidadãos iemenitas, incluindo muitos transeuntes inocentes.
O que é ainda menos jocoso é que Obama, o Mestre do Engano, simplesmente avança nesse rumo. Suas "reformas" propostas dizem-se destinadas a restringir actividades da NSA; mas ele insiste em continuar a "colecta em massa" (centenas de milhões) de comunicações telefónicas de cidadãos dos EUA (FT 8/12/13 p2). Ele mantém intacto o aparelho de espionagem da polícia estatal, mantém seus decisores políticos pró Israel em posições estratégicas, reafirma sua política de confrontação com o Irão e escala tensões com a Rússia, China e Venezuela. Obama abraça uma nova onda de ditaduras militares, a começar, mas não a terminar, pela do Egipto.
Face ao apoio interno e externo decrescente e ao declínio da credibilidade das suas grosseiras ameaças de "terror", pode-se perguntar se o sempre ativo aparelho clandestino realmente encenaria na vida real o seu próprio sangrento ato de terror, um bombardeamento "false flag" apoiado por um estado secreto, para convencer um público cada vez mais desencantado e céptico. Isto seria um acto desesperado para o Estado, mas estes são tempos desesperados que confrontam uma administração fracassada, a perseguir guerras perdidas nas quais os Mestres da Derrota só podem confiar nos Mestres do Engano.
O regime Obama está infestado com a "política tóxica do terrorismo" e este vício tem-no conduzido a perseguir, torturar e aprisionar aqueles que buscam a verdade, denunciantes [de crimes] e verdadeiros patriotas que se esforçam (e continuarão a se esforçar) por acordar o gigante adormecido, na esperança de que o povo da América se levante outra vez.
14/Agosto/2013
Notas
[1] BBC News 8/16/13; Al Jazeera 9/16/13
[2] La Jornada (Mexico City) 8/16/13, p. 22; Financial Times 8/10-11/13”T he exact threat to US missions has yet to be made public..”
[3] Financial Times 8/8/13, p. 2 e Financial Times 8/10-11 2013 p 2; McClatchy Washington Bureau 8/5/13
[4] Information Clearing House Web Page
[5] Financial Times, 8/8/13, p. 2.
[6] Financial Times, 8/8/13, p. 2.
http://resistir.info/petras/petras_14ago13.html
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