sábado, 7 de dezembro de 2013

Para não pecar contra Ti - C. H. Spurgeon



De todo meu coração te busquei (Sl 119.10-12).

Seu coração saíra em busca de Deus como tal; não só desejava obedecer a suas leis, mas também comungar com sua pessoa. Essa é uma busca real, justa e persistente, e pode muito bem ser continuada de todo o coração. O modo mais seguro de purificar o caminho de nossa vida é buscando a Deus como tal e diligenciando-nos em permanecer em comunhão com ele.

E agradável ver como o coração do escritor se volve distinta e diretamente para Deus. Ele estivera considerando uma importante verdade no versículo anterior; aqui, porém, ele mais poderosa­mente sente a presença de seu Deus, e lhe fala e ora a ele como alguém que se encontra bem perto. Um coração sincero não pode viver por muito tempo sem comunhão com Deus.

Sua petição se fundamenta no propósito de sua vida; ele está buscando o Senhor e roga a que o Senhor não permita que ele desista de sua busca. E através da obediência que vamos após Deus; daí a oração: "Não me deixes fugir de teus mandamentos.Pois se desistirmos dos caminhos designados por Deus, certamente não acharemos o Deus que os designou. Quanto mais a totalidade do coração humano é posta na santidade, mais ele teme cair em peca­do. Ele não se sente suficientemente temeroso de cometer trans­gressão deliberadamente quando não passa de um viandante dis­plicente. Ele não pode tolerar um aspecto displicente nem um pen­samento disperso que vagueia para longe dos limites do preceito. Devemos ser como os que sinceramente buscam a Deus, os quais não têm tempo nem vontade de perambular, e juntamente com nossa sinceridade devemos cultivar um zeloso temor para não va­guearmos longe da vereda da santidade.
Duas coisas podem ser bem parecidas e ao mesmo tempo total­mente distintas: os santos são 'peregrinos' - "Sou peregrino na ter­ra" (v. 19) -, mas não são andarilhos; estão de passagem pelo país dos inimigos, mas sua rota segue em frente; estão buscando seu Senhor enquanto atravessam essa terra estrangeira. Seu caminho não é visto pelos homens; porém ainda não perderam sua rota.

O homem de Deus se exercita, mas não confia em si mesmo; seu coração está em seu caminhar com Deus; mas ele sabe que mesmo toda sua força não basta para mantê-lo no rumo certo, a menos que seu Rei seja seu guardador; e Aquele que fez os mandamentos o fará perseverante em obedecê-los; daí a oração: "Não me deixes fugir. “Não obstante, tal senso de carência jamais se converteu em apologia da indolência; pois enquanto orava para ser guardado na rota certa, ele se precavia para percorrê-la, bus­cando o Senhor com todas as veras de seu coração.
Note como a segunda oitava deste Salmo se harmoniza com a primeira: onde o versículo 2 declara que o homem, para ser bem-aventurado, deve buscar o Senhor de todo seu coração; o presente versículo reivindica a bênção declarando o caráter: "De todo meu coração te busquei”.[v. 11]

Guardo no coração tuas palavras para não pecar contra ti.
Quando uma pessoa piedosa suplica pelo favor divino, ela deve criteriosamente usar todos os meios para sua obtenção; e, con­seqüentemente, como o salmista suplicara que fosse preservado de vaguear sem rumo, ele aqui nos mostra a santa precaução que tomara para evitar de cair em pecado. "Guardei no coração tuas palavras." Seu coração seria guardado pela palavra, visto haver guardado a palavra em seu coração. Tudo quanto escrevera sobre a palavra, e tudo quanto lhe fora revelado pela voz divina - tudo, sem exceção, ele armazenara em suas afeições, como um tesouro a ser preservado num escrínio, ou como uma semente selecionada para ser depositada no solo fértil - que solo mais fértil há do que um coração renovado, totalmente dedicado a buscar o Senhor? A palavra era do próprio Deus, e por isso era preciosa ao servo de Deus. Ele não usa a palavra sobre seu coração como um talismã, mas a ocultou emseu coração como uma norma. Ele a deposita onde habita o amor e a vida, e ali ela encheu as recâmaras com doçura e luz. Devemos imitar a Davi, imitando tanto sua atitude subjetiva quanto seu caráter objetivo. Primeiro, devemos ponde­rar que o que cremos é genuinamente a palavra de Deus; isso fei­to, devemos ocultá-la ou entesourá-la, cada um de per si; e é pre­ciso que notemos bem que isso deve ser feito não como uma proe­za da memória, mas como um jubiloso ato das afeições.

Para não pecar contra ti.
Eis aqui o objetivo almejado. Como disse alguém corretamente: Aqui está a coisa mais preciosa - tua palavra; oculta no melhor lugar - em meu coração; com o melhor dos propósitos -para não pecar contra ti. Isso foi feito pelo salmista com cuidado pessoal, como alguém que oculta cuidadosa­mente seu dinheiro quando receia a presença de ladrões; neste caso, o temível ladrão era o pecado. "Pecar contra Deus" é o con­ceito cristão de mal moral; as demais pessoas só se preocupam quando ofendem seus semelhantes. A palavra de Deus é o melhor preventivo para a ofensa contra Deus, pois ela expressa sua mente e vontade e se propõe a levar nosso espírito a conformar-se com o divino Espírito. Nenhuma cura para o pecado na vida se compara a palavra na sede da vida, que é o coração.

Obtém-se uma agradável variedade de significado pondo a ênfase nas palavras 'tua' e 'ti'. Ele fala a Deus, ama a palavra por­que ela é a palavra de Deus e odeia o pecado porque ele é pecado contra o próprio Deus. Se porventura aborrece alguém, sua con­clusão é que com isso ele ofendeu a Deus. Se não provocamos o desprazer de Deus é porque entesouramos sua própria palavra.
E também digno de nota o modo pessoal como alguém temen­te a Deus faz isso: "De todo meu coração te busquei." Seja o que for que outros escolham fazer, ele já fez sua escolha e já colocou a Palavra nos recessos mais íntimos de sua alma como seu mais de­sejável deleite; e se porventura outros preferem transgredir, seu alvo é seguir após a santidade: "Para eu não pecar contra ti." Isso não era o que se propusera fazer, mas o que já havia feito. Muitos são ostensivos em prometer; o salmista, porém, fora autêntico em concretizar; por isso esperava ver um resultado seguro. Quando a Palavra está escondida no coração, a vida estará resguardada do pecado.
O paralelismo entre a segunda oitava e a primeira ainda conti­nua. O versículo 3 fala de não praticar iniqüidade, enquanto que este versículo trata do método de não pecar. Quando formamos uma idéia de alguém abençoadamente santo (v. 3), ela nos leva a fazer um ardente esforço para atingirmos a mesma sacra inocên­cia e divina felicidade; e isso só pode ocorrer através de um cora­ção piedoso alicerçado nas Escrituras. [v. 12]
Bendito és tu, ó Senhor; ensina-me teus estatutos.

Bendito és tu5 ó Senhor.
Estas palavras de adoração são oriun­das de intensa admiração pelo caráter divino, o qual o escritor humildemente almeja imitar. Ele bendiz a Deus por tudo o que lhe revelara e operara nele; ele o louvo com a calidez de reverente amor e com a profundidade de santa admiração. Estas são tam­bém palavras de percepção que emanam da consciência da pro­funda e infinita felicidade de Jeová em seu interior. O Senhor é e deve ser bendito, pois ele é a perfeição da santidade; e essa prova­velmente seja a razão por que isso é usado como uma súplica neste lugar, E como se Davi dissesse: Vejo que de conformidade contigo meu caminho para a felicidade foi encontrado, pois tu és supre­mamente bendito; e se em minha estatura assimilei tua própria santidade, também serei participante de tua bem-aventurança.
Mal chegou a palavra em seu coração quando um ardente de­sejo veio à tona para assimilá-la e guardá-la. Quando o alimento é deglutido, o próximo passo é digeri-lo; e quando a palavra é receio âmago da alma, a primeira oração é: Senhor, ensina-me seu significado. "Ensina-me teus estatutos."; pois somente assim : aprender o caminho da bem-aventurança. Tu és tão bem-aventurado, que estou certo de que te deleitarás em abençoar ou­tros; e imploro-te que me dês esta dádiva a fim de que eu seja instruído em teus mandamentos. As pessoas felizes geralmente sentem o maior prazer em fazer outros felizes; e com toda certeza o Deus feliz se disporá em comunicar santidade que é a fonte da felicidade. A fé inspirou esta oração e a alicerçou, não em algo visto no homem orando, mas exclusivamente na perfeição do Deus a quem se faz a súplica. Senhor, tu és bendito, por isso abençoa-me com tua doutrina.
Precisamos ser discípulos ou aprendizes - ensina-me. Que honra ter Deus pessoalmente como professor! Quão ousado é Davi em suplicar ao Deus bendito que o ensine! Todavia foi o Senhor mesmo quem pôs tal desejo em seu coração quando a sacra pala­vra foi depositada ali, e portanto podemos estar certos de que ele não se mostrou exageradamente ousado em expressá-la. Quem não se dispõe a entrar na escola de tal Professor com o fim de aprender dele a arte do santo viver? A este Instrutor devemos sub­meter-nos, caso queiramos guardar de maneira prática os estatu­tos da retidão. O Rei que ordenou os estatutos sabe perfeitamente seu significado, e visto serem eles o produto de sua própria natu­reza, ele pode inspirar-nos melhor com o espírito dos mesmos. A petição se impõe a todos quantos desejam purificar seu caminho, visto ser ela muito prática e solícita por instrução, não com base na erudição secreta, mas com base na lei na forma de estatuto. Se porventura conhecemos os estatutos do Senhor, então possuímos uma educação que é muitíssimo essencial.

Que cada um de nós saiba dizer: Ensina-me teus estatutos. Eis aqui uma doce oração para ser feita a cada dia. Ela está a um passo do versículo 10: "Não me deixes fugir", como este está a um passo do versículo 8: "Não me desampares jamais." Sua resposta se acha nos versículos 98-100: "Teus mandamentos me fazem mais sábio que meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais que todos meus mestres, porque me­dito em teus testemunhos. Sou mais prudente que os idosos, por­que guardo teus preceitos." Não, porém, até que fosse repetido ainda pela terceira vez no "Ensina-me" dos versículos 33 e 66, para o quê solicitei a atenção de meus leitores. Mesmo depois des­ta terceira súplica, a oração ocorre novamente em diversas pala­vras nos versículos 124 e 139, e o mesmo anseio se aproxima do final do Salmo, no versículo 171: "Profiram louvor meus lábios, pois me ensinas teus decretos."


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